No mundo dinâmico das embalagens, a busca por soluções inovadoras e eficazes para preservar a qualidade e segurança dos produtos embalados tem levado ao desenvolvimento das chamadas embalagens ativas. Ao contrário das embalagens tradicionais, que atuam principalmente como recipientes passivos, as embalagens ativas desempenham um papel ativo na preservação dos produtos embalados. Elas respondem dinamicamente às condições do ambiente, adaptando-se e fornecendo a proteção necessária para garantir o frescor, sabor e qualidade dos produtos ao longo do tempo.
As embalagens ativas possuem a capacidade de interagir com o ambiente ou mesmo com o próprio produto embalado. Embalagens feitas com nanomateriais podem liberar ou absorver substâncias específicas, tais como antioxidantes, antimicrobianos, absorventes de oxigênio ou liberadores de aromas. Esse processo de interação permite prolongar a vida útil dos produtos, melhorar sua qualidade e segurança, e até mesmo realçar suas características sensoriais.
Um exemplo de aplicação de embalagem ativa para indústria de alimentos são as embalagens antimicrobianas, que inibem a proliferação de microrganismos em alimentos embalados, prolongando assim a vida útil do produto. Nanopartículas de prata são amplamente conhecidas por suas propriedades antimicrobianas, sendo capazes de inibir o crescimento e a multiplicação de diversos tipos de microrganismos, incluindo a Salmonella, uma bactéria conhecida por causar infecções intestinais e intoxicação alimentar. A Salmonella é uma bactéria comumente presente em uma variedade de alimentos, com uma presença particularmente significativa em proteínas de origem animal. Essa bactéria é frequentemente detectada em alimentos como carnes de aves, incluindo frango e pato, peixes, ovos, leite não pasteurizado e seus derivados. Um estudo conduzido por Shiji Mathew et al. [1] concentrou-se no desenvolvimento de uma embalagem para linguiça utilizando nanocompósito. A fabricação de linguiças envolve várias etapas de manipulação, tornando-as altamente suscetíveis à contaminação por patógenos e organismos causadores de deterioração. O alto teor de água e a abundância de nutrientes nesses alimentos também favorecem o crescimento e a multiplicação de microrganismos.
A embalagem desenvolvida utilizou uma base polimérica de PVA (poliálcool vinílico) biodegradável, enriquecida com nanopartículas de prata. Além disso, incorporou-se extrato de gengibre, conhecido por suas propriedades anti-inflamatórias, antioxidantes e antimicrobianas, juntamente com argila montmorilonita. Essa composição resultou em um material altamente eficaz para embalagens ativas, capaz de reduzir perdas econômicas, melhorar a segurança alimentar e garantir uma vida útil prolongada do produto. Essa abordagem sinérgica combinou os benefícios de diferentes componentes para oferecer uma solução robusta e multifuncional para o armazenamento e proteção de alimentos.
Uma outra aplicação dos nanocompósitos para embalagens ativas é para o aumento da estabilidade de alimentos. No caso de frutas e hortaliças, que são alimentos altamente perecíveis, a utilização de embalagens ativas pode ser extremamente útil para prolongar a vida útil desses produtos frescos. Durante o processo de amadurecimento, as frutas liberam etileno, uma substância que acelera ainda mais esse processo. Uma pesquisa realizada por Qiuhui Hu et al. [2] utilizou uma combinação de nanopartículas de prata, nanopartículas de dióxido de titânio e argila montmorilonita para reforçar o polietileno, um polímero amplamente utilizado em embalagens. As nanopartículas presentes nessa embalagem têm a capacidade de decompor o etileno liberado pelas frutas, além de reduzir a permeabilidade ao oxigênio e ao vapor de água, inibindo a proliferação de microrganismos responsáveis pelo deterioramento dos alimentos. Os resultados obtidos por esses pesquisadores sugerem que esse nanocompósito pode ser uma técnica promissora para reduzir a deterioração dos frutos, mantendo sua qualidade durante o armazenamento pós-colheita.
A tecnologia de embalagens ativas tem sido amplamente adotada na indústria alimentícia onde a qualidade e a segurança do produto são de extrema importância, as embalagens ativas oferecem uma solução inovadora e eficaz para enfrentar desafios relacionados à contaminação, deterioração ou perda de qualidade.
Saiba mais:
[1] Shiji Mathew, Snigdha S, Jyothis Mathew, Radhakrishnan E.K., Biodegradable and active nanocomposite pouches reinforced with silver nanoparticles for improved packaging of chicken sausages, Food Packaging and Shelf Life, Volume 19, 2019, Pages 155-166, ISSN 2214-2894, https://doi.org/10.1016/j.fpsl.2018.12.009.
[2] Qiuhui Hu, Yong Fang, Yanting Yang, Ning Ma, Liyan Zhao, Effect of nanocomposite-based packaging on postharvest quality of ethylene-treated kiwifruit (Actinidia deliciosa) during cold storage, Food Research International, 44, Issue 6, 2011, Pages 1589-1596, ISSN 0963-9969, https://doi. org/10.1016/j.foodres.2011.04.018.
Mestre em Engenharia de Materiais com ênfase em Nanomateriais pela University of Dayton – Ohio – USA.